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Uma breve história do cinema brasileiro

Hoje, dia 19 de junho, comemoramos o Dia do Cinema Brasileiro. A data foi escolhida por remeter ao primeiro dia em que foram feitas imagens a partir da tecnologia do cinematógrafo no Brasil. O fato aconteceu em 1898, quando a bordo do navio Brésil, o italiano Afonso Segreto fez imagens da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro.

Afonso Segreto foi incentivado por seu irmão, Paschoal Segreto. Paschoal Segreto, que era empresário do ramo do entretenimento, com forte interesse em teatro, logo se interessou também pelo cinematógrafo e acabaria criando a primeira companhia produtora 

Foto sala de cinema Bijou Theatrede filmes e a primeira revista especializada em cinema do Brasil.

No entanto, foi somente no início do século XX, que São Paulo tem sua primeira sala de cinema, chamada de Bijou Theatre. Um dos problemas iniciais da produção do cinema no país era a falta de eletricidade, que somente foi resolvida em 1907 com a implantação da Usina Ribeirão de Lages, no Rio de Janeiro. Após esse evento, os números de salas cresceram consideravelmente na cidade do Rio de Janeiro, chegando a ter cerca de 20 salas de exibição.

 

O início do cinema brasileiro

No início, os filmes eram de caráter documental. Em 1908, o cineasta luso-brasileiro António Leal apresenta sua película Os Estranguladores, considerado o primeiro filme de ficção brasileiro, com duração de 40 minutos. 

Por conseguinte, na década de 20 e 30 o cinema brasileiro atinge grande expansão com as publicações das revistas de cinema Para Todos, Selecta e a Cinearte e ainda com produções que se espalham por vários cantos do país denominado os ciclos regionais.

Foi na década de 30 que foi criado o primeiro grande estúdio cinematográfico no Brasil: a Cinédia. As produções mais importantes dessa época foram: Limite (1931), de Mario Peixoto; A Voz do Carnaval (1933), de Ademar Gonzaga e Humberto Mauro e Ganga Bruta (1933) de Humberto Mauro.

Estúdio cinematográfico “Cinédia”

Na década de 40 surgem os gêneros das “chanchadas“: filmes cômicos-musicais de baixo orçamento. Esse estilo despontou juntamente com a companhia de cinema Atlântida Cinematográfica, fundada em 18 de setembro de 1941 no Rio de Janeiro por Moacyr Fenelon e José Carlos Burle.

 

Os primeiros estúdios profissionais

Nas décadas de 1940 e 1950 o cinema prosseguiu com a criação dos primeiros estúdios profissionais, como o Vera Cruz, muito inspirado nas produções de Hollywood, que começavam a ganhar o mundo nessa época. A Vera Cruz representou um marco na industrialização da cinematografia nacional. Nessa época, tem destaque o filme O Cangaceiro (1953) – o primeiro filme brasileiro a ganhar o festival de Cannes.

Imagens de bastidores da gravação do filme “Tico-tico no Fubá” – Arquivo Companhia Cinematográfica Vera Cruz

Em 1954, a Vera Cruz faliu. Neste mesmo ano, surgiu o primeiro filme brasileiro a cores: Destino em Apuros, de Ernesto Remani. Em 1950 foi criada a primeira emissora de televisão do Brasil, a Tevê Tupi, e muitos atores da Vera Cruz passaram a atuar na Tupi.

Nas décadas de 1960 e 1970, o cinema brasileiro teve uma grande guinada criativa por conta do Cinema Novo, inspirado no “Neorealismo Italiano” e na “Nouvelle Vague” francesa. De caráter revolucionário, o cinema novo se consolidou nos anos 60, focado nas temáticas de cunho social e político.

Do cinema novo destacam-se as produções do cineasta baiano Glauber Rocha: Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964) e O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro (1968).

 

Cinema marginal, ditadura militar e as pornochanchadas

Mais tarde, em fins da década de 60 e início dos anos 70, surge o cinema marginal denominado também de Údigrudi (1968-1970). As maiores produtoras dessa vertente foram Boca do Lixo, em SP e Belair Filmes, no RJ. Essas produções estavam bastante alinhadas com o movimento de contracultura, ideologias revolucionárias e também com o tropicalismo, movimento musical que ocorria na mesma época. Sofreu grande censura por parte da ditadura militar que se instaurou no país naquele período. Essa vertente foi baseada no cinema experimental de caráter radical. Um filme de grande destaque foi O Bandido da Luz Vermelha (1968), dirigido por Rogério Sganzerla.

Em 1969 é criada a Embrafilme (Empresa Brasileira de Filmes) que permanece até 1982. Fundada em pleno contexto da ditadura militar, o governo apoia a ideia, com a finalidade usar o cinema como uma importante ferramenta de controle estatal. Nesse contexto, o Estado financia as produções cinematográficas, dando espaço para as produções nacionais.

No começo dos anos 70, em São Paulo, as produções de baixo custo do movimento Boca do Lixo realizam as pornochanchadas, baseada nas comédias italianas e com forte teor erótico. Esse gênero teve enorme destaque na década, fazendo grande sucesso comercial no Brasil. Como exemplo, A Viúva Virgem (1972), do cineasta Pedro Carlos Rovai.

A pornochanchada sofreu um enorme declínio da década de 80, perdendo sua audiência para os filmes pornográficos hardcores, que ganhavam cada vez mais espaço no Brasil e no mundo. Ainda que a produção cinematográfica tenha sofrido um declínio no final da década de 70, filmes como Dona flor e seus dois maridos (1976), do cineasta Bruno Barreto, fizeram sucesso. Dona Flor teve mais de 10 milhões de espectadores. Além dele, filmes de comédias com a turma dos Trapalhões atraíam milhões de pessoas.

 

Crise cinematográfica

Com a chegada do videocassete nos anos 80, a proliferação de locadoras marca essa década no país. Nesse momento, o fim da ditadura e o despontar de uma crise econômica, leva o cinema nacional a sofrer um grande declínio. Assim, os produtores não tinham dinheiro para produzir seus filmes, e os espectadores, da mesma forma, já não tinham condições para assisti-los. 

Com a chegada de Fernando Collor no poder, a crise se agrava. Além das privatizações, o novo presidente extingue o Ministério da Cultura, e acaba com a Embrafilme, o Concine e a Fundação do Cinema Brasileiro.

 

A retomada do cinema

Assim, foi somente na segunda metade da década de 90 que o cinema ganha força, com a produção de novos filmes. Esse período ficou conhecido como Cinema de Retomada depois de anos imersos na crise.

A partir disso, a produção de filmes cresce e são criados diversos festivais no país. É criada também a Secretaria para o Desenvolvimento do Audiovisual, sendo implementada uma nova legislação, a Lei do Audiovisual

A partir de 1995, o cinema brasileiro começa a sair da crise com a produção do filme Carlota Joaquina, Princesa do Brazil (1994) de Carla Camurati – o primeiro realizado pela Lei do Audiovisual.

Sucesso internacional

No começo do século XXI, o cinema brasileiro adquire novamente reconhecimento no cenário mundial, com diversos filmes indicados para festivais e Oscar. Como exemplo, temos: Central do Brasil (1999), Cidade de Deus (2002) de Fernando Meirelles; Carandiru (2003) de Hector Babenco; Tropa de Elite (2007) de José Padilha; e Enquanto a Noite Não Chega (2009), de Beto Souza e Renato Falcão. Em 2015, a produção Que horas ela volta?, de Anna Muylaert, também fez sucesso.

Com a introdução de novas tecnologias (3D, por exemplo), as produções e a quantidades de salas de cinema no país crescem cada vez mais. Alguns pesquisadores da área denominam o período como a pós retomada do cinema brasileiro, em que a indústria cinematográfica do Brasil se consolida.

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